RESUMO
A orientação profissional e de carreira (OPC) tem focado suas pesquisas e práticas em pessoas das classes média e alta, com base nas concepções de liberdade de escolha e estratégias de adaptação ao mundo do trabalho propostas pelas teorias do mainstream da área, num movimento de individualização da vida. Vários/as autores/as têm questionado este modelo e apontado a necessidade central de articular questões subjetivas/individuais e estruturais/contextuais na compreensão das demandas dos/as orientandos/as e no planejamento da intervenção a ser realizada para a compreensão das possibilidades e limites da construção do futuro de trabalho, principalmente das pessoas que sofrem desvantagens socioeconômicas e culturais. Assim, visamos analisar a estratégia compreensiva (proposta diagnóstica) das demandas iniciais expressas por uma pessoa socioeconômica e culturalmente desfavorecida de três enfoques teóricos contemporâneos da OPC (enfoque traço-fator, paradigma do life designe psychology of working theory); e propor uma estratégia compreensiva das demandas dos/as orientandos/as fundamentada na interseccionalidade de classe, gênero e raça por meio de um estudo de caso de uma mulher negra, pobre e desempregada. Concluímos que os enfoques analisados cuidariam de aspectos relevantes para o auxílio às demandas da participante, entretanto de forma parcial, e sem claramente incluir dimensões interseccionais significativas que definem quem ela é e o que ela pode conseguir no mundo do trabalho, marcando a necessidade de pluralização e contextualização das estratégias compreensivas em OPC, que devem levar em conta tanto questões psicológicas, quanto culturais e sociais para poder ampliar o espectro de pessoas auxiliadas em OPC.(AU)
The career guidance and counseling (CGC) field has focused their samples on middle and high socioeconomic status people grounded on conceptions like freedom of choice and adaptation strategies into working world proposed by its mainstream theories. It has been causing an individualization of life. Several authors have questioned this model and pointed out the central need to articulate psychological and contextual issues for understanding clients claims and for planning the intervention to be carried out. This is important to be able to comprise the possibilities and limits for constructing the future at work, especially for people who suffer socioeconomic and cultural disadvantages. Through a case study of a lower socioeconomic status (SES), unemployed Black woman, who received career counseling, this paper has two aims. First, it discusses the diagnosis proposal from three contemporary theoretical approaches of CGC field (trait-factorapproach, life design paradigm and psychology of working theory) by analyzing their effectiveness in understanding the first demands of a socioeconomically and culturally disadvantaged person. Second, it proposes a diagnosis proposal of the client first demands grounded in the intersectionality of gender, class, and race. Findings demonstrated that the analyzed approaches partially understand the clients demands without clearly including significant intersectional dimensions that define who she is and what she can achieve in the working world. This highlights the need for diversification and contextualization of diagnosis strategies in CGC field, which must consider both psychological, cultural, and social issues to expand the spectrum of people assisted in CGC.(AU)
